Há anos eu queria conhecer a parte do sul do Pantanal Mato-Grossense, pois era uma das poucas regiões do Brasil que me interessavam e que eu ainda não conhecia.
Mesmo sabendo que há muito tempo o Refugio Ecológico Caiman, a 230 km de Campo Grande, está em funcionamento com um programa all inclusive, nunca me animei devido à distância, outras prioridades em termos de viagem, falta de companhia etc… Sempre havia um senão.
Ano passado, pensando em onde ir no Brasil com as crianças (17, 14, 10 e 6 anos) num feriado prolongado de 2014 e tendo um casal de amigos, com duas filhas adultas, dispostos a fazer a viagem, enfim consegui programar a ida para o feriado de 1º de maio de 2014.
A Caiman é composta de uma pousada, Baiazinha, que abre o ano todo, e uma casa, Cordilheira, que, exceto em julho, funciona como uma vila privada, ou seja, tem que ser alugada toda, com lotação máxima de 10 pessoas.
Quando fiz a reserva em setembro de 2013, a Pousada Baiazinha já estava lotada para o feriado, mas a Cordilheira estava disponível e servia perfeitamente ao nosso grupo de dez pessoas. Então, a reservamos, por três noites (quinta a domingo), ao preço de R$ 30.000,00, pagos antecipadamente na confirmação da reserva.
Embora o serviço de reserva seja solicito, não é fácil o contato por telefone e não achei todas as explicações dadas muito claras. No entanto, como a pousada tem fama de ser a melhor da região e eu já tinha ouvido de alguns amigos que tinha standard internacional para o gênero de programa, não fiz muitas perguntas sobre as acomodações, gênero de passeios, manutenção etc… Arrependo-me e sugiro que pergunte tudo e peça respostas por escrito, antes de decidir reservar.
Abaixo vou tecer várias criticas sobre a pousada, mas isso não é exatamente um “não vá”, pois sendo a melhor opção da região, nessa parte do Pantanal, e esse pedaço do Brasil é um lugar a ser visto, talvez não tenha como escapar. As críticas aqui têm a função de desmitificar o lugar.
O local não tem nada a ver com o luxo da maioria dos lodges africanos, como eu tinha ouvido falar, estando mais para a casa de fazenda de um amigo.
A Pousada:
A Cordilheira é composta de uma casa com três dormitórios, todos suítes com sala e dois banheiros, e mais duas suítes externas.
As suítes internas são grandes, muito bem decoradas e confortáveis e têm sacada com vista para um alagado e mata. As suítes externas, embora mais novas, não têm vista. Estão situadas na frente da casa principal e possuem uma antessala, um dormitório com banho e uma varanda com chaise dupla.
A área comum é composta de um ambiente com duas salas de estar e duas mesas redondas que acomodam os hóspedes nas refeições. Esse ambiente é bem bonito e totalmente envidraçado, dá vista para a entrada da casa e para a piscina. Há ainda, uma sala externa de TV, com opções de dvd.
Talvez, então, esteja questionando quais são as criticas, tudo parece perfeito? A questão é que em todos os dias houve problemas de manutenção, que inferiram e muito no conforto. Pelo preço que se paga, acho que não há como não se exigir que tudo funcione perfeitamente ou se acontecer algum problema que seja sanado de imediato.
Chegamos na quinta-feria por volta das 14:00, embaixo de uma chuva inesperada que alagou a estrada e fez com que a viagem de 3h30min levasse 6h00. Lógico que o hotel não pode ser culpado pela ira de São Pedro, mas como as mudanças abruptas de tempo são constantes na região, acho que o hotel pode e deve se prevenir para que não falte luz, água quente etc… em casos de chuva.
Logo no dia da chegada, três quartos ficaram sem água quente, faltou água em quatro vasos sanitários das suítes e a ligação entre o computador e a TV não funcionou para que pudéssemos ver as fotos da palestra sobre a região, que é ministrada pelo guia como programa da primeira noite.
Os guias que nos acompanharam foram muito solícitos, mas não conseguiram, até o último dia, fazer com que o pessoal da manutenção diligenciasse na solução dos problemas. E não é só, acho que, por exemplo, o guia deveria ter testado o equipamento antes de começar a palestra e não ficar improvisando na hora para tentar resolver o problema, mesmo sendo isso o de menos.
Na sexta-feira, disseram-nos que os problemas com a falta de água quente e das descargas dos vasos estavam resolvidas, mas não foi o que constatei às 21:30 quando fui para o meu quarto. Resultado, tive que chamar a manutenção nesse horário para resolver a descarga. Os meus amigos que estavam nas suítes externas também reclamaram que a questão da água quente não estava resolvida e mesmo no domingo, antes de voltarmos, tiveram dificuldades em ter água quente o tempo todo nas suítes externas.
Outro fato que constatei em relação à infraestrutura é só existirem duas camionetas 4×4 equipadas para os safaris off-road e, sendo uma delas automática, não é possível ser conduzida por regiões alagadas. Esses veículos são divididos entre a Baiazinha e a Cordilheira e não ficam, portanto, disponíveis. Fizemos somente um passeio na manhã do sábado com eles, os demais foram feitos na caçamba de um caminhão adaptada.
As Refeições:
O café da manhã e o almoço são servidos no sistema buffet e o jantar a la carte é composto de sopa, duas opções de entrada, duas de carne/peixe e duas de sobremesa.
A comida é caseira, bem variada e bem feita. Aliás, um ponto positivo para o lugar. Achei, no entanto, que a apresentação a la carte do jantar não tão boa quanto o buffet, tanto que pedimos para assim ser nas noite seguinte.
Os Passeios:
Como, devido à chuva, só chegamos à pousada às 14:00, não nos foi oferecido qualquer passeio na quinta-feira. Houve apenas uma pequena palestra sobre o Pantanal, aquela citada acima, em que um problema com o cabo de ligação entre o computador e a TV nos impediu de ver a fotos na tela grande.
Na sexta-feira, o programa proposto pela manhã era uma caminhada na mata, mas como tudo estava muito molhado em razão da chuva do dia anterior, decidimos fazer um tour sobre rodas. O passeio foi realizado no caminhão adaptado, que tem que seguir em estradas.
O trajeto foi até um refúgio, a uns 15 km da pousada, mas ainda dentro da fazenda onde ela está localizada. Lá mora uma família, isolada de tudo. Eles tomam conta de duas mil cabeças de boi e cultivam uma horta e criam animais (porcos e carneiros) para consumo próprio e para venda.
O passeio durou a manhã toda, das 8:00 ao meio dia, pois, embora as estradas sejam boas, se vai num ritmo lento, apreciando a paisagem e a procura de animais e aves.
Vimos diversas espécies de aves nesta manhã, assim como jacarés, veado campeiro, catetos e o porco monteiro, um porco antes doméstico trazido pelos colonizadores portugueses e se tornou selvagem. É encontrado em todo Pantanal.
Logo depois de retornarmos, o almoço foi servido e tivemos até às 16:00 um tempo para repouso. As crianças aproveitaram a piscina.
O passeio da tarde, também no caminhão adaptado, se estendeu até as 20:00. Fomos até a sede da fazenda para visitarmos o rancho dos peões, onde o guia de campo nos falou um pouco da vida pantaneira, de seus costumes, como se arreia um cavalo e se laça um boi. Eu achei chato, mas as crianças gostaram. Na ida até essa parte da fazenda vimos um tamanduá bandeira.
Depois da visita ao rancho fomos até a recepção e visitamos o pequeno museu sobre o ecossistema do Pantanal e seus animais.
Antes de retornarmos, seguimos até um rio próximo na tentativa de encontrar animais com hábitos noturnos. Demos sorte! Conseguimos observar por quase 20 minutos uma jaguatirica que bebia água no rio. Quando chegamos à pousada o jantar já estava para ser servido.
No dia seguinte, mas uma vez o passeio começou às 8:00 e a ideia era explorar a propriedade fora de suas estradas com camionetes 4×4. No entanto, como já colocado acima, o fato de uma delas ser hidramática impede que seja conduzida por áreas encharcadas. Os guias, assim, nos deram duas opções de locais a serem visitados que podiam ser alcançados por estradas e escolhemos ir até o rio Aquidauana, um trajeto de menos de 20 km percorridos em quase duas horas.
Ocorre que esse passeio seria o que em tese propiciaria vermos a onça pintada, ou ao menos teríamos chances de vê-la, pois seria fora das estradas e, portanto, acabamos perdendo essa oportunidade.
O percurso até o rio Aquidauana também foi por estradas dentro da fazenda e mais uma vez percorrida de maneira lenta, para tentarmos ver alguns animais.
Vimos os mais comuns e até pegadas de onça, mas ela mesmo nada.
Ao voltarmos, novamente tivemos algumas horas livres antes e depois do almoço. Já às 16:00, novamente montamos no caminhão adaptado para irmos até uma lagoa próxima a sede da fazenda, onde fizemos um passeio contemplativo de canoa canadense até o sol se pôr. No caminho, avistamos um tamanduá bandeira, mais próximo do que no dia anterior.
O visual é mesmo muito bonito. Na volta, já de noite, buscamos por animais de hábitos noturnos e, novamente, vimos apenas uma jaguatirica e dessa vez bem escondida.
Acabado esse passeio, encerrava-se a nossa programação.
No dia seguinte, optamos por sair logo depois do café da manhã e almoçarmos em Campo Grande (ver abaixo sobre a cidade), mas não me pareceu que seria oferecida alguma programação bem cedo ou no horário normal se resolvêssemos sair somente apôs o almoço.
Outra coisa que me chamou a atenção, tendo em vista o custo da programação, foi a precariedade das opções oferecidas como lanchinho durante os programas, composta apenas de frutas, amendoim e barrinhas. Apenas num passeio teve sanduíches de presunto e queijo e em todos as bebidas se limitavam a refrigerantes, água e, as vezes, água de coco.
Os passeios duram entre 4 e 5 horas e seria de bom tom que caprichassem mais na variedade e apresentação do lanche.
Saliento também que, embora no folder esteja dito que é possível fazer passeios de bicicleta e a cavalo em nenhum momento esses programas nos foram oferecidos.
Também não nos foi oferecida a oportunidade de conhecer o Projeto Onçafari, desenvolvido dentro da fazenda, que consta no site da pousada como programa previsto durante toda alta temporada.
Eu diria que o programa como um todo é legal, mas caro demais para o que oferece. Difícil, portanto, recomendar ou não o lugar, pois acho que a decisão é muito pessoal e relacionada a uma questão de expectativa. Eu fui com uma muito alta e me frustrei.
A intenção desta postagem, assim, é somente de detalhar a minha experiência, para que você que nos lê decida se vale a pena ou não ir.
Outras possibilidades:
No guia Brasil 2014 encontrei algumas pousadas em Miranda, mesma região onde está a Caiman. Entrei no site das duas mais indicadas e o que vi é que todas são simples, mas oferecem conforto. Os comentários dos hóspedes são favoráveis e, se não estiver à procura de alguma sofisticação, talvez sejam uma opção interessante.
São elas: Refúgio da Ilha – De acordo com o guia, “fica em uma charmosa ilha no Rio Salobra – a apenas 11 km da estrada. Das generosas refeições aos passeios (como o de barco pelo rio e de jipe), tudo é preparado de acordo com o perfil do hóspede…”
Fazenda Baía Grande – De acordo com o guia, “recebe muitos estrangeiros e observadores de aves, que fazem suas expedições fotográficas nos arredores da baía que dá nome à hospedagem – um grande lago, a 30 minutos da casa-sede. …”
Como chegar:
TAM, Gol, Azul e Avianca voam para Campo Grande. O ideal, para melhor aproveitar o dia da chegada, é dormir em Campo Grande e pegar um transfer logo de manhã para Caiman ou outra pousada. Foi o que fizemos, voando no último voo que decola de São Paulo para Campo Grande.
Os nossos voos: De: São Paulo, Congonhas (CGH) Para: Campo Grande (CGR)
Partida às 20:56 Chegada às 21:51
De: Campo Grande (CGR) Para: São Paulo (GRU)
Partida às 16:42 Chegada às 19:25
Para voltar, a melhor opção é o último voo da TAM que decola aos domingos às 18:10 e chega em Guarulhos (GRU) às 20:45, que não existia quando fizemos a emissão, e também está disponível de segunda a sexta.
A Caiman indica duas companhias para transfer terrestre:
Vanzella (67) 3255 3005 | vanzella@vanzellatransportes.com.br;
Copavans (67) 3383-0075 / 3043-0075 | fabio@copavans.com.br;
Para transfer aéreo, que pousa na pista da fazenda, a pousada indica:MS Táxi Aéreo (67.9982-2360 | heleno@helenotranstur.com.br)
Optamos pelo transfer terrrestre, feito pela Vanzella, em uma van para 10 pessoas ao custo de R$ 1.300,00. O serviço foi pontual e o carro estava em muito bom estado.
Se o seu bolso permitir, faça o transfer aéreo, pois o trajeto, apesar de não ser longo, é bastante demorado e cansativo. Só de estrada de terra são mais de 30 km até a recepção (próxima a pista) e de lá até as pousadas são mais 13 km. A cotação que recebemos foi a seguinte:
AERONAVE/VALOR (net):
• Monomotor CESSNA 206 (Asa Alta – 05 lugares – indicado para tirar fotos – Bagagem: Total máximo 60 kg – Volumes Médios: 70×45)
– Tempo de voo: 0h55 min – Valor: R$ 5.850,00 (Referente a Ida e Volta)
• Para 10 passageiros = 02 CESSNA 206 = R$ 11.700,00 (Ida e Volta)
• 02 Bimotor SENECA III (05 lugares – Bagagem: Total máximo 60 kg – Volumes Médios: 70×45)
– Tempo de voo: 0h45 min – Valor: R$ 6.500,00 (Referente a Ida e Volta)
• Para 10 passageiros = 02 SENECAS = R$ 13.000,00 (Ida e Volta)
Campo Grande:
Como somente nos hospedamos na noite da chegada e almoçamos no domingo, antes de voltarmos, vou me limitar a falar do aeroporto, hotel e restaurante.
O aeroporto é pequeno e sem infraestrutura. Os balcões do check in só abrem duas horas antes do voo. Na volta da Caiman, paramos com a intenção de despachar as malas e seguirmos para o almoço, mas acabamos por ter que ir para o restaurante com as malas.
O Hotel Grand Park, considerado o melhor da cidade é simplório. O serviço é péssimo, os quartos sem charme e o café da manhã tem “mil itens” de qualidade ruim. Tive problema com as reservas, na chegada, e com a cobrança, na saída, ou seja, péssima experiência. Talvez, valha tentar outro.
O restaurante Fogo Caipira (67.3324-1641), foi enfim uma grata surpresa. O local é simples, mas tem seu charme. Serve comida pantaneira com algum toque de novo, o pratos são fartos e o preço excelente. O serviço é simpático e atencioso e quando fomos tinha música ao vivo de ótima qualidade.
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Incentivo os proprietários a investir na resolução dos problemas apontados na matéria, os quais vivenciei. Em relação ao local, as atrações, animais e guias, com os ajustes e melhorias Mr.encornados Creio que a visita poderia ser uma ótima opção de turismo natural, principalmente para nossas crianças e adolescentes urbanos.