Chile para quem ama vinhos

por Jaqueline Furrier – colaboração Mel Reis

Em 2016, postamos dicas para uma viagem de dois dias pelo Vale do Colchagua, 200km ao sul de Santiago e aproveitamos para dar outras dicas da capital do Chile, inclusive de vinícolas próximas à cidade. Aquele post traz, também, algumas sugestões de hotéis, restaurantes e pontos turísticos da cidade.

Em setembro de 2017, estive novamente no Chile, com um grupo de amigos para uma imersão enológica por outras regiões vinícolas, todas acessíveis a partir de Santiago, que compartilhamos com vocês abaixo.

Foram três dias de excursões por três diferentes vales e um dia em Santiago. Todos os jantares, também foram na cidade e aproveitei para experimentar restaurantes que não conhecia e repetir, no almoço de domingo, um onde já tinha estado, Mestizo, do qual falei no outro post. Confira as novidades.

O grupo ficou hospedado no Hotel Renaissance, em Vitacura, já citado no outro post.

Todos os passeios pelas vinícolas foram organizados via email com Thomas Poussard (thomas@chileprivatetours.com – +56-9-81724441), da agência Chile Private Tours (ww.chileprivatetours.com), que nos acompanhou.

Ele foi super atencioso desde o começo das nossas tratativas e idealizou o roteiro dentro do que demandamos. Desde o primeiro momento entendeu nossos desejos e necessidades e se desdobrou para acomoda-los. Recomendo muito.

Éramos 5 casais e a programação integral (transporte, tours, almoços e degustações, todas com vinhos tops) custou USD 940 por pessoa, pagos metade via paypal quando fechamos e a outra metade lá.

O roteiro abaixo, ao final, se mostrou demasiado intenso. Sugiro, a não ser que só tenha um dia, que opte por duas vinícolas por dia e não três, como fizemos em dois dos três dias.

ROTEIRO

Dia 1 –  Vale do Aconcágua

Menor dos cinco vales chilenos onde se planta vinhas, é conhecido por seus vinhos de alta gama. O turismo de vinho por lá está a dar início, mas a paisagem é deslumbrante e vale a pena visitar.

Saímos do hotel, às 10:00 e seguimos para a Vinícola Errazuriz, onde chegamos por volta das 11:30.

A Errazuriz tem vinhedos plantados em diversos vales no Chile, mas é no Vale do Aconcágua que produz todos os vinhos, inclusive seus 5 ícones (Seña, Don Maximiliano, Kai, Cumbre e Chadwick).

A propriedade é histórica, do início do século XX, e foi nela que a família começou a plantar os primeiros vinhedos e a fazer seus vinhos. A história da vinícola se confunde com a história do vinho no Chile.

A antiga planta de vinificação foi convertida num lugar para eventos e no seu subterrâneo encontram-se as caves. Tudo muito bonito e de bom gosto.

O início do tour se dá na antiga construção com uma explicação sobre o envolvimento da família com o vinho, depois se vai até as caves, segue-se para uma visita à moderníssima planta, onde são produzidos os vinhos ícones e volta-se à antiga construção para a degustação.

A degustação foi conduzida pela mesma guia do tour. Experimentamos 4 vinhos: Max Reserva Chardonay, Syrah Aconcagua Costa, e 2 ícones, no caso, Seña e Don Maximiliano.

Depois da degustação fomos recebidos no pátio para um almoço de 4 tempos. Os pratos foram acompanhados de vinhos da linha Max, que combinavam com os pratos escolhidos. Foi o melhor programa da viagem, tanto pelos vinhos como pelo lugar.

Depois do almoço, seguimos para a vinícola Von Siebenthal, para um tour e degustação.

Trata-se de uma vinícola relativamente nova (primeira safra em 2003) e pequena, pertencente a um advogado suíço aficionado por vinho, que produz apenas vinhos de alta gama. A maioria dos vinhos passa por barricas de carvalho francês e recebe ótimas notas da imprensa especializada e críticos.

Fica logo ao lado da Errazuriz e sua planta de vinificação, embora remeta a uma construção colonial, é moderníssima.

A degustação, conduzida pelo simpático filho do proprietário, foi de cinco vinhos incluindo os tops Toknar e Montelig, acompanhados de queijos.

De lá, retornamos ao hotel, onde chegamos por volta das 18:30.

Dia 2 –  Vale do Maipo

Neste dia, saímos mais cedo do hotel (9:00), para visitar o vale mais conhecido e mais próximo de Santiago. A primeira parada seria para um tasting na vinícola Almaviva, mas a reforma pela qual passava atrasou e o roteiro foi prontamente reformulado por Thomas para antecipar o tour da De Martino e incluir outro depois do almoço na Viña El Principal.

A De Martino é uma vinícola com mais de 80 anos de tradição e tem o mérito de ter produzido o primeiro carmenere do Chile, depois que uma pesquisa reconheceu que a uva, considerada extinta, ainda existia no Chile, onde até então era confundida com merlot.

O tour seguiu o roteiro tradicional, mostrando alguns vinhedos (a vinícola tem vinhas em diferentes vales), o modo de produção, as diferentes barricas de fermentação, inclusive uma baseada nas antigas ânforas, finalizando com a degustação.

A degustação foi de quatro vinhos, incluindo o Vieja Tinas, que são envelhecidos nas ânforas, mas não curti. Os demais, por outro lado, eram muito bons.

De lá, seguimos para a Viña Santa Rita, somente para almoçar e visitar o Museu Andino. Eu já tinha ido outras vezes e sempre recomendava, mas dessa vez o almoço não me agradou. Talvez porque tenhamos ficado com o menu turístico (há opções a la carte), mas o que me parece mais provável é a qualidade ter caído.

O Museu Andino, no entanto, continua imperdível para quem visita a região e o café da vinícola, que serve pratos leves e sanduiches, é bem simpático.

Depois de visitarmos o museu, seguimos para a vinícola El Principal, onde visitamos a área de produção e fizemos a degustação de 3 vinhos, acompanhados de queijo, dentro da cave.

A El Principal nasceu em 1992 da associação do dono das terras e Jean Paul Vallete, enólogo francês e antigo dono do famoso Château Pavie. Atualmente, pertence a duas famílias chilenas que continuam a prezar os valores dos fundadores, produzindo apenas vinhos de alta gama. São apenas três rótulos de tintos (El Principal, Memórias e Calicanto) e um novíssimo branco (Kine), produzido com uva italiana verdejo. Todos excelentes.

Depois desta degustação retornamos ao hotel, onde chegamos por volta da 19:00.

Dia 3 – CASABLANCA VALLEY

Este vale, famoso por seus bons vinhos brancos, também é bem próximo de Santiago, na direção de Valparaíso.

A primeira parada foi na vinícola Emiliana, onde, entre 10:30 e 11:30,  fizemos o Tour Gê, que é o premium da casa.

O guia, muito simpático e engajado, nos mostrou a propriedade, onde só há vinhas (lá não se produz nenhum vinho), e nos explicou o sobre o selo de biodinâmica que tem a vinícola.

Depois seguimos para uma sala de degustação privada, onde provamos dois vinhos brancos e três vinhos tintos, todos excelentes, acompanhados de queijos e chocolates, numa harmonização por oposição. A propriedade é muito bonita e há um café para um lanche ou mesmo piquenique.

De lá seguimos para a La Recova, uma vinícola boutique, que produz de forma artesanal em uma propriedade bonita, mas modesta.

Lá fomos recebidos para um almoço na casa, onde o proprietário, um brasileiro que se mudou ainda menino para o Chile, se hospeda quando lá está trabalhando. Quando o tempo colabora o almoço é servido num terraço, no alto de propriedade, em um espaço bem mais charmoso do que a casa.

Fomos ciceroneados por Judith, que nos mostrou a propriedade e o modo como produzem seus vinhos.  Aqui as estrelas são vinhos brancos e o rosé, Obstinado, para mim o melhor. Não é um programa imperdível, mas se já viu de tudo ou está com tempo, vale checar.

No final do dia ainda tínhamos um Premium tasting tour, nas Bodegas RE, que pertence ao ex-proprietário da Morandê, mas acabamos por só mesmo provar alguns deles, pois além de tarde, depois de três dias intensos de degustação já não dávamos mais conta.

A proposta aqui é bem menor e o processo de vinificação usa métodos antigos, com a proposta de recriar, reinventar e revelar.

Eles produzem também licores, azeites e vinagres, que estão à venda na bonita loja junto com os vinhos e outros produtos artesanais.

É possível ainda combinar a degustação, com brunch, tábuas de queijos ou mesmo piquenique.

Restaurantes em Santiago:

Como disse acima, aproveitei a viagem para conhecer alguns restaurantes que, embora muito falados, não conhecia.

99 – a revista Restaurant o classificou como o segundo melhor do Chile e o 22° da América Latina (lista 2017). O ambiente é casual, quase um boteco, mas não se engane – a proposta é de uma gastronomia contemporânea e criativa. Só oferece 2 menus e tudo que provei estava excelente. Reserve com antecedência, pois é pequeno e concorrido.

Ambrosiatudo aqui é tradicional, da decoração do salão ao menu. Como estávamos num grupo grande e celebrávamos um aniversário, reservei uma sala privada e um menu de três tempos pré-escolhido entre opções que me passaram. Funcionou tudo muito bem e o pratos tinham ótima apresentação e execução, sem, contudo, surpreender. Na lista da Restaurant ocupa a 33ª posição na lista da América Latina, sendo o 3 colocado do Chile.

Bocanarizse a ideia é provar vinhos e mais vinhos, não deixe de conhecer este restaurante na boêmia Lastarria. A lista de opções aqui é enorme, mas se estiver com preguiça, deixe as escolhas por conta dos garçons, que não irá se arrepender.

A melhor ideia é pedir pratos para compartilhar enquanto se vai degustando variados vinhos. Como éramos muitos, tive oportunidade de provar várias gostosuras, algumas tradicionais como as empanadas e outras mais gourmet, como o atum e os canapés das fotos.

By | 2018-03-29T16:33:32+00:00 março 23rd, 2018|Am. do Sul, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai|0 Comments

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